quinta-feira, 21 de julho de 2022

Renata

É possível escutar o mundo se não escuto a mim mesma? É possível escutar a mim mesma e não escutar as minhas infâncias? 
O que seriam essas infâncias? 
O que eu escutava era que a infância era ausência de voz. Era a ausência de uma tal dignidade, que permitia que certos cuidados não precisassem ser tomados. Não era preciso dar escuta a uma criança. Nem dar escolha. Criança não tem querer. 
Só que éramos crianças e queríamos. Éramos crianças e falávamos, dizíamos, berrávamos, escrevíamos. Jorrávamos ideias e propósitos. 
Éramos crianças e não aceitávamos descuido e insegurança. E cuidávamos de nós. E nos assegurávamos. Uma comunidade de crianças no interior do mundo e a infância era outra coisa, ao mesmo tempo em que era o que era. Como podem conviver a infância que é o que é e a infância que é outra coisa?

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